Por:
Ana Menezes
O núcleo do Narcóticos Anônimos (NA) em Macaé realiza um trabalho
voluntário que tem como objetivo ajudar as pessoas se libertarem da
dependência química e sua graves consequências. O NA é uma irmandade sem fins lucrativos, que realiza reuniões regularmente
para homens e mulheres que resolveram procurar ajuda, onde todos são
bem-vindos, independente da idade, situação financeira, raça, opção sexual, religião
ou falta de religião. Macaé possui cerca de 1.300 presenças mensais nas
reuniões de apoio.
A missão do NA é
controlar a adicção que é uma doença física, mental e espiritual, onde adicto
significa “escravo de”, ou seja, dependente. Seus membros são chamados de
adictos em recuperação. A adicção é uma doença que não tem cura, portanto o seu
tratamento deve ser feito até o fim vida, pois a pessoa é sua própria
responsável, e nas reuniões os membros priorizam a honestidade de contar como
têm vivido nesse processo de abstinência química. O Narcóticos Anônimos explica
que a base dessa doença é a obcessão e compulsão pelo uso das drogas, e isso
precisa ser controlado. E droga é tudo aquilo que altera o ânimo e humor das
pessoas, podendo ser também o álcool e altas dosagens de remédios sem prescrição
médica.
As reuniões fluem por
meio do programa de empatia, que funciona pelo incentivo de ouvir pessoas que
vêm superando a doença e se mantendo limpas dos entorpecentes. Cada membro
possui cerca de dez minutos para compartilhar experiências. E nesse tempo todos
os outros devem ouvir em silencio. O tempo do desabafo pode ser maior ou menor
dependendo da quantidade de pessoas presentes. O novo membro quando chega ao
grupo escolhe o seu padrinho, aquela pessoa que está a mais tempo limpo (sem
usar drogas), para ajudá-lo nesse processo de superação. Existe um sistema de
fichas, que vai premiando os membros de acordo com seu tempo limpos. Eles
ganham um prêmio simbólico em forma de chaveiro, onde descreve o sucesso do
tratamento.
O recém-chegado é o membro
mais importante
Segundo um servidor do NA de Macaé, este é um
programa de total abstinência de todas as drogas e o único requisito para ser
membro é o desejo de parar de usar.
Para o Narcóticos Anônimos o recém–chegado é
a pessoa mais importante em qualquer reunião, porque só dando eles podem manter
o que têm. "Qualquer pessoa pode juntar-se a nós, não estamos
interessados no que ou quanto a pessoa usou, quais eram os seus contatos, no
que fez no passado, no quanto ela tem ou deixa de ter", frisou o servidor.
Acrescentando que "só nos interessa o que a pessoa quer fazer a respeito
do seu problema e como podemos ajudar. Aprendemos com nossa experiência
coletiva que aqueles que continuam voltando regularmente às nossas reuniões
mantêm-se limpos", ressaltou.
De acordo com o
Comitês de Serviço Regionais (CSR), no estado do Rio de Janeiro, são 4.182
reuniões, e 1.509 grupos. Em Macaé são cinco grupos formados e um em formação,
quais fazem parte do Comitê de Serviços da Área (CSA) Litoral. Além de Macaé,
grupos das cidades de Rio das Ostras, Cabos Frio e Búzios também fazem parte do
CSA Litoral.
Cada grupo possui um secretário, chamado de abnegado/servidor, que
é responsável por direcionar cada reunião. Para se tornar um servidor o adicto
deve ter no mínimo três meses limpo, não é necessário ser profissional da área
da saúde, apenas ter boa vontade de estudar a literatura do NA e passar essas
informações para ajudar outros membros. O servidor compartilha sua experiência
do mundo das drogas, relata o tempo de limpo, dá dicas de superação do vício,
realiza o balanço de presença e progresso dos membros, e também passa essas
informações ao coordenador do seu CSA. Também existe a reunião geral, que
acontece nos EUA, onde comparecerem os delegados de cada CSR. É dessa forma
organizada que o Narcóticos Anônimos estimula pessoas a voltar a viver livre
dos vícios, e reconquistar tudo que foi perdido pelo uso das drogas.
O NA em Macaé possui
dois telefones de atendimentos, chamados Linha de Ajuda 24h: (22) 99267-4913 /
(22) 99810-2867. De acordo com um dos servidores, pessoas ligam em extremas
situações provocadas pelo uso das drogas. Exemplos: pessoas desesperadas,
alegando que não aguentam mais ser dependente, querendo se suicidar, mães
alegando que apanham do filho adicto. E a função dessa linha é encaminhar o
usuário ao grupo mais próximo de sua casa, e informá-los os dias e horários de
reuniões.
História de superação do uso das drogas
F.G (30), natural de
Resende – RJ, começou a usar drogas com apenas 12 anos de idade. Na época ele
era estudante e para se enturmar com o grupo de amigos popular da escola,
passou a frequentar encontros e festas onde fumava por hobby a ‘Cannabis satiba’,
conhecida como maconha. Com o passar do tempo F.G passou a ser usuário de drogas
mais fortes, como êxtase e cocaína. Como consequência ele perdeu a afetividade
com a família e começou a ter mau desempenho na escola, se tornando um
adolescente rebelde. Por usar as drogas todos os dias, ele teve complicações de
saúde, com doenças como gastrite e pancreatite. No ano de 2002, com 17 anos,
F.G foi internado em uma clínica de recuperação para alcoólatras, em Volta
Redonda.
Assim que saiu da
clínica, ele se casou, conquistou seu apartamento, carro, e seu próprio
empreendimento. Mas, ele tinha o
pensamento que álcool não era droga, e com isso, em pouco tempo voltou a beber
socialmente, depois foi aumentando as doses, até cair novamente no mundo dos
entorpecentes. Nessa época, ele andava transtornado, cada vez mais dependente
das drogas, fato que causou sua separação matrimonial, e perda de tudo que
tinha. O dependente químico deixou de ser sócio no empreendimento, vendeu apartamento
e carro, chegou ao fundo do poço e voltou a morar com seus pais. Nesse período
ele tinha 22 anos, foi quando a sua adicção piorou, pois passou a andar com os
traficantes do bairro, e fazia qualquer negócio pelas drogas. Chegou ao estágio
de sofrer três crises de overdose, pesando 65 quilos e ficou internado por dias
na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Nessa fase sua
família resolveu interná-lo mais uma vez, só que a força, pelo sistema de
internação involuntária. F.G ficou sete meses e quatro dias nessa clínica para
dependentes químicos, localizada no interior de São Paulo. “No primeiro mês da
segunda internação foi muito difícil, pois passei os piores momentos, não me
lembro de muita coisa, vivia em outro mundo, alucinado pela abstinência”,
contou F.G. Nessa clínica F.G conheceu o Narcóticos Anônimos, em uma palestra
realizada pelo subcomitê de Hospitais e Internações (HI), foi quando descobriu
que sofria de uma doença e existia uma solução. “Foi a luz no fim do túnel,
pois achava que eu não tinha mais jeito, não aguentava mais aquela vida, foi a
oportunidade que dei para mim”, ressaltou ele.
Em 2011, F.G saiu da
clínica e veio direto pra Macaé, onde procurou ajuda imediata do NA, e começou a
frequentar as reuniões do Grupo Paz Amor. Nos primeiros três meses ele ficou
morando de favor na casa de parentes, até reconquistar a confiança dos seus pais,
e alugar um pequeno apartamento. Com a ajuda da família ele voltou a estudar, se
formou em técnico de mecânica, e hoje se especializa em inspeção de solda.
Livre dos vícios das drogas, ele recuperou tudo que perdeu, mobilhou seu lar,
comprou outro carro, e hoje trabalha como metrologista na área on e offshore no
polo empresarial de Macaé.
“Agradeço ao NA, pois
foi com sua ajuda que voltei a ser uma pessoa produtiva na sociedade. Não tenho
mais problemas de saúde, não tomo nenhum remédio, estou no meu peso ideal,
reconquistei minha paz interior e a confiança das pessoas”, esclareceu. F.G é
um servidor do NA e ajuda outras pessoas vencer as drogas. “Realizo o trabalho
de HI, trabalho esse que um dia me apresentou a solução para o meu problema. Eu
ajudo as pessoas, porque na verdade elas também me ajudam. O nosso empenho no Narcóticos
Anônimos é uma forma de retribuir todo apoio, e também nos manter nesse foco de
distância das drogas” frisou.
NA surgiu dos Alcoólicos Anônimos
A irmandade dos
Narcóticos Anônimos surgiu dos Alcoólicos Anônimos (AA), pois a coordenação
percebeu que os membros do AA também eram usuários de outras drogas. O NA nasceu
no Sul da Califórnia – EUA, em julho de 1953. Sua filial no Brasil existe há
mais de 25 anos. O NA não tem subterfúgios, não é filiado a nenhuma outra
organização, não tem matrícula nem taxas, não há compromissos escritos, nem
promessas a fazer a ninguém. Não estão ligados a nenhum grupo político,
religioso ou policial e, em nenhum momento, seus membros estão sob vigilância.
O sistema do NA é
organizado por meio dos Comitês de Serviços de Área (CSA) e Comitês de Serviços
de Região (CSR). Um conjunto de grupos forma o CSA, e o conjunto de CSA forma o
CSR. No Brasil são sete regiões. E o sustento do funcionamento dos grupos é
baseado na 7ª tradição NA, que explica “grupo de NA deverá ser totalmente autossustentável,
recusando contribuições de fora”. Com isso seus membros ajudam no sustendo,
doando o que puder, para custear as contas mensais, como aluguel de salão, taxa
de água e luz, mas o NA deixa claro que a contribuição não é obrigatória.

Além dos comitês,
existem os subcomitês, onde são os realizados os serviços prestados. São eles: Hospitais
e Instituições (HI): realiza palestras em prisões, abrigos para menores
infratores, clínicas de reabilitação, manicômios dentro outras instituições;
Informação ao Público (IP): oferece palestras em escolas, empresas públicas e
privadas, batalhões de polícias; Relações Públicas (RP): funciona em conjunto
com o IP, realiza contatos para participações em eventos, e locais que serão
visitados; Revisão e Tradução de Literatura (SRTL): reúne servidores que
dominam a língua inglesa para traduzir os livros institucionais do NA que
chegam do Estados Unidos; Longo Alcance (LA): se responsabiliza de visitar e
ajudar grupos distantes, em locais de difícil acesso; Linha de Ajuda (LA):
comitê responsável por atender chamadas de emergências dos adictos, trabalho de
plantão 24h.
O NA possui suas 12
tradições, conceitos e passos. As 12 tradições são as regras de proteção do
grupo e irmandade. Os 12 conceitos são as regras para os servidores. E os 12
passos funciona como uma programação de libertação, para os membros abandonarem
o mundo das drogas.